Não há dúvidas que a maioria das pessoas no mundo consideram a segunda-feira o “pior” dia da semana, isso levando-se em consideração diversos fatores. Entretanto, um estudo internacional realizado com base no que as pessoas postam nas redes sociais, mostram que não.

A segunda-feira pode parecer, mas não é o "pior" dia da semana, concluiu o projeto Hedonometer, criado pelos matemáticos Peter Dodds e Chris Danforth da Universidade de Vermont. O projeto, que coletou cerca de 50 milhões de postagens por dia do X (ex-Twitter) entre 2008 e 2023, concluiu que as quartas eram postadas as mensagens mais negativas da plataforma em 15 anos.

O que aconteceu

Posts no X, letras de música, livros e notícias foram ponto de partida. Para chegar a este resultado, Dodds e Danforth compuseram primeiro uma base de dados com um algoritmo que reuniu os 5.000 verbetes mais comuns em inglês presentes no Google Books, notícias do The New York Times, letras de música da plataforma Music e, obviamente, do Twitter.

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Palavras receberam notas de acordo com sua positividade. Usando o Amazon Mechanical Turk Service, uma ferramenta de machine learning, foi criada uma escala de felicidade atribuída às palavras coletadas dos tuítes — e seus respectivos equivalentes em 10 idiomas: ucraniano, português, inglês, árabe, russo, alemão, coreano, espanhol, chinês e francês.

Humor global varia com os eventos.

Na "régua" de Dodds e Danforth, a nota 1 era atribuída às palavras mais tristes e 9 àquelas mais alegres. Assim, eles conseguiam avaliar como o humor do público variava de acordo com os eventos correntes, a partir de uma nota média. Às quartas, muita gente compartilhava mais negatividade nas plataformas do que em outros dias da semana, apontaram os dados da dupla.

Quarta é o pior dia e o fim de semana é mais feliz. "Os fins de semana tendem a ser relativamente felizes e a quarta é o dia mais triste. A experiência diária das pessoas se reflete de alguma maneira no que estão dizendo. E este é o caso especialmente no Twitter, acreditamos", comentou Danforth ao jornal The Telegraph, em 2009, no início da pesquisa.

Espontaneidade nas redes contribuiu para precisão do projeto.

Para ele, este tipo de avaliação era eficiente porque, nas redes, "as pessoas acham que estão se comunicando com amigos, mas como os perfis são públicos, estamos bisbilhotando sobre os ombros delas". Surpreendentemente, outro dia em que as pessoas seguem animadas é a segunda-feira, que só perde em positividade para o fim de semana.

Depois da quarta, a bonança. Para os criadores do projeto, no início dos dias úteis ainda há uma energia residual do descanso que permeia o bom humor deste dia. A boa notícia é que, ao atingir seu pior momento na quarta, os níveis de positividades voltam a subir progressivamente até encontrar seu melhor momento no sábado.

Pandemia foi "buraco negro" do projeto. Ao longo dos anos, o Hedonometer se provou bastante preciso. Tanto que, em maio de 2020, foi detectado o período mais triste desde a criação do monitoramento, com lockdowns sendo decretados pelo mundo e a covid-19 em franco crescimento de sua curva de contaminação e mortes. A revista científica Nature registrou a efeméride.

Percepção de felicidade é complexa. Os cientistas, contudo, reconhecem no seu site que mesmo um bem-sucedido projeto matemático como o Hedonometer precisa ser contextualizado. Por exemplo, o dia da morte de Osama bin Laden, 2 de maio de 2011, registrou baixos índices de positividade mesmo com palavras como "celebração" sendo muito citadas nas redes. O motivo? O caráter do líder terrorista era registrado de maneira tão negativa que acabou se sobrepondo a qualquer percepção de alívio que o público pudesse estar sentindo.

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