Vamos ser francos: o fulano que tem a sorte de dirigir o melhor comediante brasileiro de sua geração podia muito bem se preparar para isso. Ver um pouco de Jerry Lewis e Frank Tashlin, de Billy Wilder e John Landis, de Charles Chaplin e Buster Keaton. Apreciaria a construção de uma "gag", de uma sequência, talvez até aprendesse alguma coisa.

Se Marcelo Antunez, o cineasta por trás de "O Palestrante", fez isso, não parece. Dirigiu Fábio Porchat como quem dirige um de seus abacaxis anteriores. Talvez esteja certo ele e eu errado -os filmes que assinou em geral fizeram sucesso. Se o parâmetro for esse, nada a dizer.

O problema é que "O Palestrante" não desperdiça apenas Fábio Porchat. O filme parte de uma situação mais que instigante. Guilherme (Porchat) é um aplicado funcionário que, num mesmo dia, é largado pela mulher e demitido em nome da redução de custos. O rapaz nem tem tempo para se deprimir. Uma série de acasos mais algumas decisões insensatas o levam a tomar o lugar de um certo Marcelo, sem saber o que isso significa.

Logo saberá -tornar-se palestrante motivacional em um hotel-fazenda no interior do Rio de Janeiro. Temos então unidas as duas pragas, a redução de pessoal por causa da redução de despesas e as palestras motivacionais, cujo objetivo final é tornar cada colaborador (no passado eram chamados de funcionários) um vencedor (isto é, trabalhador produtivíssimo, precário e de tempo integral).

O argumento é desafiador. Como fazer comédia a partir de circunstâncias tão depressivas como a crise do emprego e suas decorrências psíquicas? Assuntos, no entanto, tão atuais.

O roteiro não está à altura do desafio. Sofre por ser convencional, por seguir manuais de roteiro, essas coisas todas.

Mas há Porchat, que não raro surpreende e faz rir. Menos, no entanto, do que nos sketches do Porta dos Fundos. Em todo caso, é graças ao seu talento de ator que as coisas se arranjam, saem do completo marasmo.

No entanto, a metragem longa parece intimidar o corroteirista Porchat: ele no mínimo consente que o roteiro alinhave situações sem qualquer originalidade, cujo único fim é, essencialmente, cumprir os ritos de um manual de roteiro.

É aí que entra em cena tudo que a encenação de Antunez tem de canhestra, pois um roteiro de comédia até aceita situações convencionais. Mas a direção vai mais longe. Por exemplo, os atores com frequência não parecem dirigidos.

Ninguém pense que isso acontece porque se está dando muita atenção à câmera. Nunca. A câmera está lá, mal que mal registra o que acontece, em nenhum momento cria um pouco de humor visual. Nunca aproveita, por exemplo, a gesticulação de Porchat para criar algo. Nada.

Sua sorte é que o personagem é a caráter para o comediante -um tipo mal em seu corpo, oprimido pela situação em que se meteu, produzindo a cada momento novos mal-entendidos com os quais tem que se entender, numa perpétua fuga para frente: empurra o problema com a barriga, tenta desfazer o erro passado e produz um novo etc... Convenhamos, é difícil esperar mais como ponto de partida para o humor de Porchat.

Mas o princípio de Antunez é o pica-pica. Pula de um plano para o outro sem nem por quê. E plano, contraplano, plano, contraplano -o tempo todo. A câmera não consegue se fixar num personagem. É o facilitário levado a uma espécie de estágio absoluto.

Antunez poderia ver o que Hugo Carvana fez. Poderia ir à Academia e perguntar a Cacá Diegues como se faz... Enfim, seriam maneiras de aproveitar o bom argumento e os atores, e até de suprir as deficiências do roteiro, em vez de aprofundá-las.

Em resumo, nesse momento em que a comédia passa por dificuldades como principal gênero popular no Brasil, Porchat e o elenco mereciam alguma ajuda.

O PALESTRANTE

Quando Estreia nesta quinta (4)

Onde Nos cinemas

Classificação 14 anos

Elenco Fábio Porchat, Dani Calabresa, Antonio Tabet

Direção Marcelo Antunez

Avaliação Regular

Fábio Porchat e Fani Calabresa protagonizam a comédia Foto: Reprodução

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