O estilista Lino Villaventura e a artista Irekran Kaiapó, ambos paraenses, fazem parte da mostra “Artistas do vestir: uma costura dos afetos”, que o Itaú Cultural abre hoje, 27, em São Paulo, dando luz ao trabalho de diferentes grupos do pensar e fazer da moda brasileira.
Com curadoria de Carol Barreto e Hanayrá Negreiros, a exposição se estende por três andares do Itaú Cultural e reúne cerca de 80 obras de mais de 70 artistas, sendo quatro criadas exclusivamente para a mostra e seis exibidas pela primeira vez ao público brasileiro. Cada um dos pisos é batizado por um tema – Ancestralidades, Contemporaneidades e Fazeres Contínuos –, mas todos se conectam e dialogam sem hierarquias.
O eixo Ancestralidades tem foco em obras e artistas que trabalham com temáticas e grupos ancestrais, em um amplo leque de nomes, como as Bordadeiras do Curtume do Vale do Jequitinhonha, Angela Brito, Ekedy Sinha e Fernanda Yamamoto. Este andar apresenta, por exemplo, a indumentária original de rainha de Nossa Senhora das Mercês, usada pela poeta, ensaísta, dramaturga e professora Leda Maria Martins no Reinado de Nossa Senhora do Rosário do Jatobá, em Minas Gerais.
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É nessa seção que estão as obras dos paraenses Lino Villaventura e Irekran Kaiapó, mulher indígena idosa, integrante da comunidade da aldeia kubêkrãkej, da cultura mênbêgôkré. Irekran tem uma série de adereços confeccionados com o conhecimento cultural transmitido para ela por sua mãe, tias e avós: a saia Mêjn kradjê, a pulseira Mê ýnay kam ágâ, o bracelete Mepádjê, o adorno Áyn, o colar Meôkrédjê, a tornozeleira Prýn-ká e o adereço de antebraço Meyn-ý ou Meýnaý kam pýn ká.
“A gente gosta muito de pensar esses dois nomes do Pará, porque têm trajetórias e atuações completamente diferentes”, diz a curadora Hanayrá Negreiros. “O Lino Villaventura é um nome muito conhecido da moda brasileira, há muitos anos criando, já tem uma circulação nacional e internacional grande e reconhecida, que nasce no Pará, transita no Ceará, e que também desagua em São Paulo. Ele está nesses vários lugares pensando essas manualidades, pensando bordado à máquina, pensando formas que extrapolam ideias objetivas do que é moda. Ele transita ali pelo dramático teatral. Os desfiles do Lino são sempre quase peças de teatro, apoteóticos, como a gente tem chamado em tudo nessa exposição, essa é uma exposição apoteótica”, completa.
Já Carol Barreto destaca a importância de ter conhecido a trajetória de Irekran Kaiapó, que vive em uma aldeia em Redenção. “É uma mulher idosa, indígena aldeada, da etnia kaiapó, que eu tive a honra de conhecer nessa cidade. De família, comunidade tradicional. A gente tem o apoio dessa família, da sua filha, que é cacica, O-é Kaipó, [a ativista] Maial Paiakan, que mora em Brasília, kepa, nomeando aqui essas mulheres que nos ajudaram a receber com muita honra essas joias que adornam o corpo de mulheres indígenas. A gente tem a possibilidade tanto de oportunizar às pessoas que vêm visitar a galeria e também as pessoas que terão a possibilidade de conferir a exposição a partir de um vídeo que será disponibilizado com a visita guiada, essas joias feitas em miçanga, os colares, vestes do corpo que produzem sonoridades, que constituem rituais religiosos e de espiritualidade muito fortes que são a base do nosso país”, detalha.
Para Carol Barreto, o norte brasileiro não poderia deixar de ser representado em uma exposição como essa. “O norte do país é o Brasil. É o que eu considero, mesmo como nordestina, como o real Brasil. Onde a nossa origem, a nossa ancestralidade está viva, não apenas representada. E dessa forma de contemporaneizar esse tradicional, a gente traz também o vestido que as mulheres Kaiapó usam para ir no centro das cidades, para ir ao mercado, como esse design brasileiro essencial”, explica.
Os trabalhos expostos sob o título Contemporaneidades abordam temas atuais, discussões diretamente ligadas a questões políticas, de gênero, raciais e performáticas, em uma mescla de nomes mais conhecidos da esfera da moda brasileira com outros independentes e alternativos. Entre eles, Alexandre Herchcovitch, Dudu Bertholini, Rita Comparato, Fause Haten, Rober Dognani, Jal Vieira, João Pimenta, Lab Fantasma, Sioduhi e Vicenta Perrota.
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Já na área dos Fazeres Contínuos, a mostra remete aos fazeres, desenhos e costuras contínuos de um ateliê de moda. Neste andar, também tem uma escultura vestível de Jum Nakao, que demonstra o processo de confecção da modelagem, do manequim até o papel.
FILMES
Como parte da exposição, a plataforma Itaú Cultural Play também disponibiliza, a partir de hoje, a mostra “Uma costura dos afetos”. São cinco filmes nacionais sobre moda: “Favela é moda”, de Emílio Domingos; “O ponto firme”, de Laura Artigas; “A costura do invisível”, de
Jum Nakao e Kiko Araujo; “Estou me guardando para quando o carnaval chegar”, de Marcelo Gomes; e “Ôrí”, de Raquel Gerber.
Serviço
- Mostra “Artistas do vestir: uma costura dos afetos”
- Quando: 27 de novembro de 2024 a 23 de fevereiro de 2025
- Onde: Itaú Cultural - Av. Paulista- São Paulo-SP
- www.itauculturalplay.com.br