O Campeonato Brasileiro está prestes a iniciar mais uma temporada, mantendo uma rotina que tem sido marcada pelo crescente protagonismo de treinadores estrangeiros. O fenômeno, que já foi visto como uma mera tendência passageira, ganha cada vez mais consistência, estabelecendo um novo paradigma e ecoando não apenas nos gramados brasileiros, mas também reverberando até mesmo no mercado europeu.

Desde 2019, o número de técnicos estrangeiros atuando no Brasileirão tem aumentado significativamente, impulsionado inicialmente pelo estrondoso sucesso de Jorge Jesus à frente do Flamengo.

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Se retrocedermos até o início da era dos pontos corridos, em 2003, até 2018, apenas 17 técnicos de nacionalidade estrangeira haviam comandado equipes no Brasileirão. No entanto, a partir de 2019, esse número mais que dobrou, evidenciando uma mudança significativa no perfil dos profissionais à beira do campo.

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Na temporada de 2020, por exemplo, três estrangeiros iniciaram o Brasileirão como treinadores principais - Eduardo Coudet (Inter), Jorge Sampaoli (Atlético-MG) e Domenèc Torrent (Flamengo) -, e esse número aumentou para sete com as chegadas de outros renomados técnicos do exterior: Abel Ferreira, Sá Pinto, Emiliano Diáz e Gustavo Morínigo, sendo que Rafael Dudamel e Jesualdo Ferreira foram demitidos antes por Inter e Santos, respectivamente, antes do inócia da Série A.

RECORDE DE ESTRANGEIROS EM 2023

No ano passado, o Brasileiro viu um marco histórico: pela primeira vez houve mais treinadores estrangeiros do que brasileiros atuando simultaneamente. Esse fenômeno foi evidente no final de julho, quando os anúncios de Coudet no Internacional, Bruno Lage no Botafogo e Ramón Díaz no Vasco reforçaram a presença internacional nos bancos de clubes brasileiros.

O Brasileirão de 2023 já havia começado com 10 treinadores estrangeiros e viu esse número subir para 14 ao longo do torneio, com entradas e saídas ao longo da competição.

GRINGOS SÃO QUASE A METADE EM 2024

Para a edição deste ano, o Campeonato Brasileiro inicia com oito estrangeiros à frente das equipes: Gabriel Milito no Atlético-MG, Arthur Jorge no Botafogo, António Oliveira no Corinthians, Juan Pablo Vojvoda no Fortaleza, Eduardo Coudet no Internacional, Abel Ferreira no Palmeiras, Pedro Caixinha no Red Bull Bragantino e Ramón Díaz no Vasco.

JORGE JESUS E ABEL FERREIRA DITAM TENDÊNCIA

A ascensão de nomes como Jorge Jesus e Abel Ferreira, este último campeão da Copa do Brasil e da Libertadores pelo Palmeiras, consolidou ainda mais a predileção dos clubes brasileiros por treinadores estrangeiros.

O sucesso desses profissionais, somado à relativa estagnação do mercado nacional de técnicos de ponta, tem impulsionado essa tendência, tornando-a cada vez mais arraigada na cultura futebolística do país. "Ainda é uma moda, perpetuada pelo sucesso do Abel Ferreira no Palmeiras. Mas cada vez menos uma moda. Os clubes brasileiros estão contratando treinadores como se acostumaram a contratar jogadores estrangeiros. Em geral eles são mais baratos que os brasileiros proporcionalmente falando, em nível de sucesso internacional", avalia Rafael Reis, colunista do UOL.

"E também tem a questão de uma renovação pequena do primeiro escalão dos treinadores brasileiros. Então, os clubes, muitas vezes para fugirem de 'sempre os mesmos', um grupo de 20 técnicos que costumam trabalhar na Série A, acabam priorizando estrangeiros, porque este grupo já rodou muito, se desgastou muito, e é visto com maus olhos por muitos torcedores. Então você vai ao exterior para trazer caras que não estão tão 'queimados' no mercado brasileiro", acrescenta.

MERCADO BRASILEIRO ATRAI EMERGENTES

Essa tendência não passa despercebida no exterior, onde o mercado brasileiro se tornou cada vez mais atrativo para técnicos emergentes, ávidos por novos desafios e experiências culturais distintas.

"O público português ainda continua pouco interessado no futebol brasileiro, mesmo depois dos sucessos de Jorge Jesus e Abel Ferreira, mas a mesma verdade não pode ser dita dos treinadores. Os técnicos portugueses da 'segunda prateleira' do país, e aqui é importante dizer isso, olham para o Brasil como um mercado atraente, onde é possível receber um bom salário e experimentar uma realidade diferente", esclarece Bruno Andrade, colunista do UOL.

"O português, aliás, adora experimentar novas culturas e desafios diferentes, e essa é a sua principal característica, por isso também tantos exemplos recentes no futebol brasileiro. Os técnicos portugueses mais gabaritados, sejam mais jovens ou mais velhos, ainda dão a preferência para saltos maiores dentro da própria Europa", observa.

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