Junho de 1948. Magalhães Barata era Senador do Estado do Pará, e o Baratismo ainda era uma das principais forças políticas do Estado. O Brasil, cuja capital era a cidade do Rio de Janeiro, se preparava para organizar sua primeira Copa do Mundo, competição que até então nunca havia vencido, dentro de dois anos. No Pará, o futebol celebrava o título da Tuna Luso, novamente campeã após sete anos de fila.
Esse era o panorama geral quando uma turma de moradores da passagem Vila Teta, no centro de Belém, fundou o Vila Teta Futebol Pelada que, 65 anos depois, continua na ativa, como o mais antigo time de pelada ainda em atividade na capital paraense. “Nós começamos, na verdade, após o final do Tietê, que era o time da Vila, mas que deu uma dispersada após alguns jogadores se mudarem. Alguns dos remanescentes resolveram criar um novo clube e ele sobrevive até hoje”, conta Sebastião Sodré, 79 anos, ou, como é mais conhecido pelos colegas, o Sidoca.
Com 14 anos na época, Sidoca quase não jogava, mas acompanhou a formação do time e hoje é o último remanescente vivo da primeira geração do Vila Teta. “Ainda me lembro daqueles primeiros jogadores, eram muito bons. Tiveram convite para jogar no futebol profissional, mas optaram por ficar na pelada. Naquela época, o futebol não era como hoje. Não dava para conciliar trabalho pela tarde com emprego formal, eles optaram pelo emprego”, segue.
Da geração dos pioneiros, com o Didi, Dedé, Calazans, Teixeira, Messias, Tito e Pepira, para a atual direção do clube, com Renato, Itamar, Palhinha e Zé Carlos, cerca de quatro gerações se passaram. “Procuramos preservar as tradições. As cores do clube, vermelho, preto e branco, não mudaram. Os atletas, em sua maioria, ainda são moradores da Vila Teta, apesar de alguns, familiares dos fundadores, já terem se mudado. Como é o meu caso”, revela Itamar Pontes, 52 anos, filho de Pepira.
O caso 'juiz malandro'
Numa das raras ocasiões que o Vila Teta disputou uma competição, nos anos de 1970, houve o caso de um juiz um tanto quanto malandro que entrou para o folclore do clube. “Ele tinha passado com alguns diretores do time antes de um jogo que valia pelas semifinais e disse que poderia ‘ajudar’ a nossa equipe a se classificar. Os diretores fizeram o acerto, mas na hora do jogo rolou o contrário. O juiz pegou pesado contra o nosso time e até marcou um pênalti duvidoso no último lance. Perdemos. Os jogadores queriam brigar com o juiz mas, como foi tudo por baixo dos panos, não ia pegar bem brigar em aberto”, revela Itamar.
Naquele mesmo dia acontecia uma festa na Vila e o árbitro da partida apareceu por lá. “Quando o povo viu, quase a festa virou confusão, mas o juiz, malandro, tinha uma saída. Ele disse ‘não se preocupem, eu não deixei vocês na mão, é que eu fiz um acerto com o outro time também antes do jogo. Só que eu sei de um jogador deles que entrou em campo irregular, então vocês podem entrar com representação amanhã na liga que vocês vão para final’. Depois disso, a quase briga virou festa de novo e o time foi para a final”, conta Itamar, com um sorriso no rosto. “Não sei se por castigo por esses arranjos todos, mas o Vila Teta acabou perdendo na decisão depois”, encerra.
(Diário do Pará)