Após o recente escândalo que atingiu em cheio o alto comando da Caixa Econômica Federal, não houve saída para Pedro Duarte Guimarães. O agora ex-presidente da estatal renunciou ao cargo um dia após a publicação pelo Portal Metrópoles das denúncias de assédio sexual sofridas por funcionárias do banco, que teriam sido cometidas por ele.

Agora que Guimarães foi demitido do comando da Caixa, o presidente Jair Bolsonaro (PL) perde um de seus interlocutores mais frequentes nas tradicionais transmissões que faz pelas redes sociais.

Um levantamento feito pelo Portal Metrópoles no canal oficial de Bolsonaro no YouTube mostra que o atual chefe do Executivo federal chamou Guimarães para suas lives semanais ou transmitiu conteúdo estrelado pelo gestor exonerado na quarta-feira (29) pelo menos 27 vezes desde o início do governo, em 2019.

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A conta não considera transmissões com a participação de muitas autoridades, como lançamentos de programas do governo não relacionados diretamente à Caixa.

O número de aparições pode ser maior, já que dezenas de postagens de Bolsonaro foram excluídas pelas redes sociais nos últimos anos por descumprimento de regras das plataformas contra a difusão de informações enganosas.

Guimarães caiu nas graças de Bolsonaro por ter conquistado a simpatia do presidente da República com sua lealdade e senso político.

Lives de Bolsonaro com Pedro Guimarães eram frequentes
📷 Lives de Bolsonaro com Pedro Guimarães eram frequentes |Reprodução/Youtube

O protagonismo da Caixa na promoção de políticas de transferência de renda que ganharam importância nos últimos anos, como o Auxílio Emergencial contra o coronavírus, também ajudou o ex-gestor do banco público a ganhar muito espaço entre os aliados de Bolsonaro.

Ele foi exonerado no final da tarde de quarta, menos de 24 horas após o colunista Rodrigo Rangel, do Metrópoles, revelar que o agora ex-presidente da Caixa é acusado de assédio sexual por um grupo de funcionárias do banco. O caso é investigado, sob sigilo, pelo Ministério Público Federal. Em carta de demissão, Guimarães garantiu que as acusações “não são verdadeiras”.

APARIÇÕES

Das 27 aparições de Guimarães ao lado de Bolsonaro catalogadas pelo Metrópoles no YouTube do presidente, três ocorreram este ano; 12 ao longo de 2021; oito em 2020 e quatro em 2019.

Além de participar de dezenas de edições das lives de quinta-feira, que Bolsonaro realiza desde o primeiro ano de seu governo, Pedro Guimarães foi prestigiado em outros momentos em que o presidente da República buscava notícias positivas sobre realizações do governo.

Em julho de 2021, por exemplo, o ex-presidente da Caixa não segurou as lágrimas ao inaugurar uma agência do banco no Ceará. Na ocasião, Bolsonaro participou do evento por videoconferência, internado no hospital Vila Nova Star, em São Paulo, após uma obstrução intestinal, e transmitiu tudo por suas redes sociais.

Sempre à direita de Bolsonaro, Pedro Guimarães era figura recorrente em pronunciamentos pelas redes sociais
📷 Sempre à direita de Bolsonaro, Pedro Guimarães era figura recorrente em pronunciamentos pelas redes sociais |Reprodução/Youtube

Mesmo sem aparecer diretamente, Guimarães foi elogiado ou acionado por Bolsonaro outras diversas vezes ao longo desses quase quatro anos de relação profissional entre os dois.

Em dezembro do ano passado, por exemplo, o presidente atendia militantes no cercadinho do Palácio da Alvorada quando uma apoiadora lhe relatou problemas com uma dívida. Bolsonaro então ligou para o presidente da Caixa.

“Tem uma senhora aqui que quer renegociar a dívida dela, eu falei que ia ligar pra você. A negociação não tem privilégio para ninguém, todo mundo é atendido da mesma forma, mas ela queria apertar tua mão aí na Caixa, ok?”, disse o presidente, em frente a seus fãs.

PLANOS FRUSTRADOS

A simpatia do presidente da República motivou Pedro Guimarães a sonhar alto. Ao longo do governo, seu nome chegou a ser cotado para substituir o ministro Paulo Guedes na Economia e até para figurar como vice de Bolsonaro nas eleições de outubro.

Com as graves denúncias que caíram sob o ex-presidente do banco, porém, todas essas possibilidades desmoronaram e Bolsonaro sequer citou seu nome ao longo do dia apesar de ter participado de eventos no Planalto, nos quais discursou, e de ter parado outras duas vezes para falar com os apoiadores no cercadinho.

Na live desta quinta, é possível que o presidente fale na substituição do aliado por Daniella Marques, braço direito de Paulo Guedes, mas é muito improvável que Pedro Guimarães esteja ao lado do ex-chefe na transmissão pela 28ª vez.

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