Mais de seis anos após o assassinato da vereadora Marielle Franco e do motorista Anderson Gomes, ocorrido em 14 de março de 2018, os ex-policiais militares Ronnie Lessa e Élcio Queiroz enfrentarão júri popular nesta quarta-feira (30). A data foi definida pelo juiz Gustavo Kalil, do 4º Tribunal do Júri, em reunião realizada no último dia 12, no Fórum Central do Rio, que contou com a presença do Ministério Público, assistentes de acusação e a defesa dos réus.

O juiz Kalil determinou que apenas as pessoas diretamente envolvidas no processo compareçam ao plenário, visando evitar aglomerações e possíveis tumultos. Tanto defesa quanto acusação terão dez dias para apresentar as últimas provas orais.

Entenda o caso

Marielle Franco, vereadora do PSOL, foi morta a tiros na noite de 14 de março de 2018, no bairro do Estácio, no Rio de Janeiro, após participar de um evento na Lapa. O carro em que estava foi alvejado, e seu motorista, Anderson Gomes, também foi atingido e morreu. Uma assessora da vereadora foi ferida por estilhaços.

O crime gerou repercussão internacional e deu início a uma extensa investigação, que contou com a participação de diferentes instâncias policiais. Após avanços e reviravoltas, Ronnie Lessa e Élcio Queiroz, ex-PMs, foram presos como suspeitos dos assassinatos. Este ano, também foram detidos os irmãos Chiquinho e Domingos Brazão, suspeitos de serem mandantes do crime, além do ex-chefe da Polícia Civil Rivaldo Barbosa. O caso envolvendo os possíveis mandantes segue em tramitação no Supremo Tribunal Federal (STF).

Movimentos por justiça

O Instituto Marielle Franco considerou o julgamento dos acusados uma etapa crucial. “Foram 78 meses e mais de 2 mil dias em que nos juntamos desde que nos tiraram Marielle e Anderson. Marchamos, gritamos, nos emocionamos, amarramos lenços e levantamos placas em busca por justiça. A nossa força nos trouxe até aqui e neste mês a justiça, enfim, vai começar a ser feita”, declarou o instituto em nota.

“No dia 30 de outubro, vai ter o julgamento dos acusados de assassinarem Marielle e Anderson, por meio do júri popular. Esse é um momento decisivo para todo mundo que luta por justiça e para quem acredita que o Brasil precisa ser um país sério, que não permite que mulheres, pessoas negras, LGBTQIAPN+ e faveladas sejam brutalmente assassinadas,” ressaltou o instituto.

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A Anistia Internacional, que acompanha o caso, afirmou que o julgamento é "um passo importante em uma busca por justiça que se iniciou há mais seis anos.” Segundo a ONG, a justiça completa será alcançada quando todos os envolvidos no crime, inclusive aqueles que possam ter obstruído as investigações, forem responsabilizados em julgamentos que atendam aos padrões internacionais.

A Anistia também destacou que o Brasil é um dos países mais perigosos para defensores dos direitos humanos. Segundo dados da organização Global Witness, o Brasil registrou 25 mortes de ativistas em 2023, ocupando a segunda posição entre os países com maior número de assassinatos de defensores ambientais e sociais. Entre 2012 e 2023, o país contabilizou 401 assassinatos de defensores de direitos humanos.

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Ato de mobilização

A família de Marielle Franco organizou uma missa em sua memória neste domingo (27), realizada no Cristo Redentor. No dia do julgamento, 30 de outubro, o Instituto Marielle Franco, a Anistia Internacional e outras organizações do Comitê Justiça por Marielle e Anderson realizarão, ao amanhecer, uma manifestação em frente ao Tribunal de Justiça do Rio, às 7h, em homenagem à vereadora e ao motorista. Familiares e ativistas levarão faixas, cartazes e lenços em um ato que reforça o pedido por justiça e reparação.

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