Tomar um cafezinho no fim da tarde ou em um dia de chuva é algo que os brasileiros gostam de fazer. Porém, esse costume pode sofrer algumas mudanças pelos próximos anos.
O preço do café arábica atingiu níveis históricos no mercado global, gerando preocupações entre analistas e agentes da cadeia produtiva. Na Bolsa de Nova York, a cotação ultrapassou US$ 3,20 por libra-peso, considerada a maior desde o final da década de 1960. Apesar de o cenário atual não ser diretamente comparável ao de 50 anos atrás, quando o Brasil ainda não tinha a expressiva produção e consolidação comercial de hoje, a alta histórica levanta dúvidas sobre a capacidade de abastecimento.
De acordo com Vicente Zotti, em entrevista a revista globo rural, o impacto mais imediato recai sobre o consumidor brasileiro, que já enfrenta preços elevados no varejo. "O pacote de 500 gramas do café tradicional custa cerca de R$ 38,00, e esse ainda não é o teto da cotação", alerta Zotti. Ele explica que os preços na Bolsa americana podem romper a barreira de US$ 3,40 por libra-peso, ampliando o custo para o consumidor final.
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A alta nos preços é atribuída, em grande parte, à incerteza sobre a produção brasileira, que desempenha papel central na oferta global de café. O pagamento da florada no Brasil, que define o potencial da safra 2024/25, ainda é incerto, alimentando temores de restrição na oferta. "Chegamos à prova de fogo: será que o preço mais alto vai restringir a oferta e a demanda?", questiona Zotti. Segundo ele, caso a demanda interna e internacional permaneça forte, o mercado poderá ver novas valorizações.
A pressão também afeta os produtores, que enfrentam desafios adicionais como a falta de estoques e a volatilidade do mercado. "Sem estoques saudáveis e sem trava nos valores, há risco de ficar sem café para comercializar", afirma o consultor.
Outro fator de pressão sobre os preços é a especulação no mercado de café. Dados do relatório da Comissão de Negociação de Futuros de Commodities (CFTC) mostram um número expressivo de posições compradas: 111 participantes, contra apenas 20 vendidos. "O consenso é de alta, e isso cria um ambiente de disfuncionalidade", destaca Zotti. Ele explica que, enquanto os produtores têm boas margens, intermediários como torrefações, tradings e cafeterias enfrentam margens negativas ou nulas.
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Essa dinâmica ameaça a sustentabilidade do setor. "Se o cenário não mudar, o mercado pode levar outras empresas a quebrarem", adverte Zotti, enfatizando a necessidade de ajustes.
O analista também aponta que o verão, tradicionalmente uma época de menor consumo de café, pode trazer algum alívio para a demanda global e os preços. "Ainda é cedo para prever as consequências, mas o mercado opera de forma nervosa", avalia. Ele ressalta que as próximas semanas serão decisivas para determinar os rumos da cadeia produtiva e do consumidor.
A grande dúvida no momento é se o consumidor suportará os novos preços e se as exportações continuarão fortes. Caso isso ocorra, o mercado do café poderá atingir novas máximas nos próximos pregões. "Estamos diante de um rearranjo que pode definir o futuro do setor", conclui Zotti.