Formada em administração e tendo trabalhado por mais de 15 anos com carteira assinada, Ellaine Oliveira,36 anos, sempre foi uma mulher inconformada com a condição de assalariada. Sempre procurou rendas extras, vendendo doces, bolsas e roupas com intuito de melhorar sua renda. Em fevereiro de 2021, quase na reta final da pandemia, ela decidiu ter seu próprio negócio. Nasceu a Ali Esfiharia, especializada em comida árabe com um toque paraense, que hoje conta com 32 funcionários, sendo 31 mulheres.
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A empresária faz parte de uma estatística que mostra o poder das micro e pequenas empresas (MPE) na geração de emprego no país. Um estudo feito pelo Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae) mostra que, este ano, 7 em cada 10 vagas de trabalho com carteira assinada foram criadas por micro e pequenos negócios, confirmando que os pequenos negócios são os maiores responsáveis pela criação e manutenção de empregos na economia.
Essa realidade também ocorre no Estado do Pará, que no primeiro trimestre deste ano (janeiro a março) gerou 7.976 novos postos de trabalho, sendo 5.616 (70,4%) vagas geradas pelas MPE, enquanto as Médias e Grandes (MGE) apresentaram o total de 65 novos empregos, no acumulado. “Podemos dizer que de cada 10 novos empregos gerados 7 foram gerados pelas MPE nesse período, refletindo a realidade nacional. Isso mostra a importância dos pequenos negócios para fortalecer a economia do Estado e do país”, pontua o diretor-superintendente do Sebrae no Pará, Rubens Magno.
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Em maio as MPE continuaram sendo segmento que mais gerou empregos: ao todo, foram 4.037 novos empregos, o que representa 55,5% do total de empregos gerados, ou seja, 6 em cada 10 empregos gerados.
O estudo foi feito com dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), do Ministério do Trabalho e Emprego. De janeiro a maio, o Brasil criou 865.360 empregos formais. Desses, 594.213 foram por MPE. Isso representa 69%. Os setores que mais contribuíram para a geração de emprego em pequenos negócios no país de janeiro a maio, aparecem o ramo de serviços (saldo de 339.127 vagas), construção (123.937), indústria de transformação (64.754) e comércio (34.127).
Ellaine recorda que na reta final da pandemia como microempreendedora individual (MEI), se juntou ao seu marido Humberto de Oliveira, que é contador, para fazer um empréstimo. “Pedi demissão para viver a loucura do empreendedorismo. Hoje emprego mais de 30 pessoas! ”, comemora.
Ela diz que os desafios são diários e que empreender é “para os fortes”. “Estou abrindo minha quarta unidade, sendo que uma delas em Marabá e até o final do ano minha marca se tornará uma franquia. A perspectiva é que possamos empregar mais pessoas, proporcionando aos consumidores as melhores experiências na área da gastronomia”.
Elma Lúcia de Souza Cavalheiro, 46, é podóloga há 10 anos. Abriu sua empresa em fevereiro de 2013 e procurou o Sebrae para formalizar o negócio. “Até hoje tive e tenho todo o apoio que um empreendedor pode ter, principalmente relacionado a cursos, gestão e planejamento estratégico para meu negócio, crescimento, superação e inovação. Com isso, garanti o sucesso do meu negócio. O ramo da podologia vem crescendo bastante nos últimos anos”, diz.
“Procurei me adequar à nossa realidade econômica que ficou bem complicada após mais de 2 anos daquela pandemia. O apoio financeiro, a carga tributária, a pouca margem para negociação com fornecedores são as maiores dificuldades que enfrentamos para manter nosso negócio, mas seguimos em frente!”
MPEs são 99% das empresas no Brasil
Só em maio, os pequenos negócios responderam por 70% (108.406 dos 155.270) dos novos vínculos empregatícios no Brasil. Um aumento de 2 pontos percentuais em relação aos 68% obtidos no mesmo mês do ano passado.
Esse crescimento da participação das MPE no volume total de empregos no país vai na contramão do comportamento das médias e grandes empresas (MGE). As MGE viram a fatia delas no total de empregos formais cair de 22% em maio de 2022 para 15% em maio de 2023.
O empresário Egberto Luciano Cavalcante, 30 anos, atua no setor de eventos há 13 anos. “Minha empresa, Anime Fest Futuristic, surgiu no início de 2019 e nesse período ainda estava trabalhando para outra empresa. Percebi que em um determinado momento as pessoas no evento acabavam sentando por não ter um atrativo na sua festa. E foi aí que tive a ideia !”, conta.
Ele idealizou personagens futuristas para animar, alegrar e entreter o público com iluminação e múltiplos efeitos visuais através de dançarinos profissionais que vestem trajes especiais em neon fazendo espetáculos de dança. “Fazemos eventos no setor privado e corporativo e com esse trabalho chegamos até a Time Square, em Nova York, após fazermos um clipe com Anitta. Também já participamos de shows com Dj Alok”, comenta.
Hoje a empresa mantém 45 colaboradores, sendo 6 fixos. “Ampliamos nossa atuação e trabalhamos com os outros produtos, como camisas personalizadas com nossos personagens estampados, letreiros em neon, caixa futurista, e também iniciamos um trabalho para uma peça de teatro com os Futuristas. Estamos felizes com o crescimento e reconhecimento que obtemos na empresa”, garante.
Dados do Sebrae mostram que a maioria das MPE possui até 5 colaboradores. Em um contexto de cerca de 22 milhões de pequenos negócios, as MPE são fundamentais à economia, respondendo por cerca de 99% de todas as empresas que existem no país, 55% do conjunto total de empregos com carteira e quase 30% do Produto Interno Bruto (PIB).
Na avaliação do Sebrae, os pequenos negócios seguirão como reboque da criação de empregos. Em 2023 o cenário aponta para um valor próximo dos 70% na participação das MPE na geração de empregos, com altas para os meses de outubro e novembro. Portanto, existe sim tendência de o nível de emprego continuar sendo puxado pelas MPE.