O racismo religioso e a intolerância religiosa estão encrustados na realidade brasileira. Expressões como "chuta que é macumba" continuam comuns até os dias de hoje, e os crimes ultrapassam o verbal e os insultos por muito.

Em 2015, por exemplo, muitos casos vieram à tona. Em Paranoá (DF), criminosos atearam fogo a um terreiro. Na Vila da Penha, no Rio de Janeiro (RJ), uma menina de 11 anos levou uma pedrada na rua.

Também no Rio de Janeiro, na Baixada Fluminense, um grupo de candomblecistas resolveu agir contra manifestações de intolerância religiosa nos muros das cidades, no mesmo ano. 

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 O grupo começou a apagar frases preconceituosas, que eram pintadas ano após ano, como "só Jesus expulsa Ogum, Iemanjá ou Tranca Rua das pessoas", pintando mensagens de apoio ao candomblé e à umbanda.

Apesar de algumas críticas, o projeto foi defendido pelo grupo e apoiado por outras pessoas. Quase uma década depois, Tranca Rua apareceu em uma frase similar projetada no show da cantora Ludmilla no festival Coachella, nos Estados Unidos, neste domingo (21).

A imagem de um cartaz com a frase "só Jesus expulsa o tranca rua das pessoas" foi considerada preconceituosa, especialmente por causa do aumento da intolerância religiosa no Brasil. A equipe alegou descontextualização de um material feito para denunciar mazelas sociais.

Mas a associação de Tranca Rua com demônios, segundo religiosos e estudiosos, é fruto de preconceitos que remontam a processos de colonização, já que o nome é sinônimo de abertura de caminhos na umbanda.

O nome Tranca Rua, segundo a religião, se refere a uma linhagem ou conjunto de exus. Os exus são conjuntos de espíritos que atuam como mensageiros e trabalhadores dos orixás, as divindades.

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Tranca Rua, por exemplo, é regido por Ogum, orixá guerreiro. Diferentemente do candomblé, os ritos de umbanda não cultuam diretamente as divindades, mas o fazem por meio dos exus.

Tranca Rua é o nome do conjunto de espíritos, e pode aparecer acompanhado de complementos, como Imbaré, das Almas e da Estrada, que representam segmentos diferentes de atuação das entidades.

A figura é a de um homem, que pode ser representado com uma capa e uma cartola, além de portar um tridente e fumar charuto.

O conjunto de exus agrupados sob o nome de Tranca Rua, por ser regido por Ogum, é associado não apenas à abertura de caminhos, mas também às lutas diárias das pessoas.

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