A cada realização da Conferência do Clima da ONU (COP), cria-se a expectativa da elaboração de ações imediatas que colaborem para o enfrentamento das mudanças climáticas. No entanto, a política de alguns países pode marcar o retrocesso e entraves para esses acordos e, consequentemente, promover incertezas quanto ao futuro sustentável e seguro.

É com esse cenário político instável que a COP-29 começou, nesta segunda-feira (11), em Baku, no Azerbaijão. O motivo se pauta na eleição de Donald Trump nas eleições presidenciais dos Estados Unidos da América (EUA), uma vez que o país é o maior emissor histórico de gases de efeito estufa, o que deve permanecer por ser uma das pautas do novo presidente americano.

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Trump deixou isso bem claro em sua campanha eleitoral, quando prometeu retirar os Estados Unidos do Acordo de Paris e enfraquecer as políticas ambientais implementadas por seu antecessor, Barack Obama. Como observou John Podesta, conselheiro de Política Climática Internacional do presidente Joe Biden, “devemos acreditar em Trump” quanto à sua intenção de desfazer o progresso alcançado nos últimos anos.

EUA e as pautas anticlimáticas

Esse cenário gerou um intenso debate entre organizações não governamentais que apelam para que outros países se unam para preencher a lacuna deixada pelos EUA. Entretanto, as palavras de Podesta, ao substituir John Kerry como enviado especial de Clima dos Estados Unidos na COP29, foram as mais contundentes.

Durante entrevista coletiva, Podesta expressou a decepção do governo americano pela inconsistência nas políticas climáticas do país. "Estou ciente da decepção que os Estados Unidos causam, principalmente quando se observa a alternância entre lideranças comprometidas e o desengajamento repentino após uma eleição", afirmou.

Ele citou não apenas o retrocesso iniciado por Trump em 2017, quando retirou os EUA do Acordo de Paris, mas também as falhas do governo de George W. Bush, que se recusou a ratificar o Protocolo de Kyoto, o primeiro acordo global que visava reduzir as emissões de gases de efeito estufa.

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A postura de Bush, em 2001, foi pautada pela ideia de que o cumprimento das metas ambientais prejudicaria o desenvolvimento econômico do país – uma justificativa similar à de Trump, que se mostrou um negacionista da mudança climática e defensores da expansão da exploração de combustíveis fósseis.

"Perigos cada vez mais catastróficos"

Podesta não poupou críticas ao futuro governo de Trump, que assume o cargo em janeiro de 2025, e cujo compromisso com a crise climática é descrito por ele como "farsa", em referência ao ceticismo de Trump em relação à ciência climática. "Os perigos que enfrentamos são cada vez mais catastróficos", afirmou Podesta, apontando para desastres climáticos como furacões nos EUA, secas extremas na África e incêndios florestais devastadores na Amazônia e Pantanal.

Apesar das incertezas, Podesta procurou tranquilizar os delegados da COP29, afirmando que, embora o governo de Trump possa diminuir o ritmo de ação climática, os esforços continuarão nos Estados Unidos. "Mesmo que o governo federal coloque a ação climática em segundo plano, o movimento por um futuro mais sustentável seguirá forte, com o compromisso e a paixão de milhares de cidadãos, governos e empresas", afirmou.

Ele se referiu a uma coalizão crescente de governos subnacionais e empresas, conhecida como "We Are Still In" (nós ainda estamos dentro), que, após a eleição de Trump, se comprometeu a seguir trabalhando pela causa climática, independentemente da postura do governo federal.

COP-29 em um momento crítico para os EUA

Podesta também destacou que a transição para energias limpas continua a ganhar força nos Estados Unidos, com mais de 50% dos novos empregos no setor de energia limpa sendo criados em distritos representados por republicanos. "Muitos governadores republicanos reconhecem que a energia limpa é boa para suas economias e seus estados", afirmou, demonstrando que a mudança rumo à sustentabilidade pode transcender as divisões políticas internas.

No entanto, mesmo com esses avanços, a COP29 chega em um momento crítico para os Estados Unidos, que enfrentarão dificuldades para implementar novas ações significativas antes da mudança de governo. Podesta mencionou que o governo Biden está tentando acelerar a liberação de fundos para projetos climáticos previstos pela Lei de Redução da Inflação (IRA), mas o tempo é curto.

As expectativas para a delegação americana na COP29 são de que o país não atrapalhe o andamento das negociações, como ocorreu em eventos passados, quando os Estados Unidos, mesmo sob administrações democratas, se mostraram resistentes em comprometer-se com metas mais ambiciosas. 

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