Até a segunda metade do século XIX, o antigo hábito de promover o sepultamento dos nobres nas igrejas era mantido em Belém, enquanto as pessoas escravizadas e os não católicos eram enterrados em terrenos abertos, como em uma pequena área do antigo Largo da Pólvora, hoje Praça da República.

Uma grande epidemia de febre amarela ocorrida nos anos 1850, porém, começaria a mudar esse cenário, resultando na fundação do Cemitério de Nossa Senhora da Soledade, marco de importantes mudanças de hábitos da população belenense e que, atualmente, passa por obras de restauração e requalificação para se tornar um cemitério-parque.

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No livro ‘Procissão dos Séculos: vultos e episódios da história do Pará’, datado de 1952, o historiador Ernesto Cruz relata que, naquele ano, a epidemia de febre amarela chegou a acometer um terço da população de Belém, levando 506 pessoas à morte em pouco menos de seis meses. Segundo o historiador, neste período, além do cemitério instalado no Largo da Pólvora, Belém contava com outro cemitério em condições parecidas, o chamado ‘Cemitério Municipal’, descrito como um terreno desprezado e aberto, onde se enterravam pessoas escravizadas e desvalidos.

Cemitério da Soledade passa por resgate histórico
📷 |Wagner Santana e acervo da Biblioteca Nacional

Diante do número crescente de óbitos, o então presidente da província, Jerônimo Francisco Coêlho, determinou a proibição dos enterros nas igrejas e o cercamento do antigo Cemitério Municipal. Feito o cerco, foi construída uma capela em alusão a Nossa Senhora da Soledade e, daí, originou-se o Cemitério da Soledade, inaugurado em 8 de janeiro de 1850. Segundo Ernesto Cruz, o primeiro sepultamento registrado no local foi o de uma mulher escravizada identificada como Romana.

Durante o período em que o cemitério esteve em funcionamento, 31.872 pessoas foram sepultadas no local. Com a capacidade esgotada, os enterros no Soledade foram interrompidos em 1880. Apesar disso, os registros históricos guardados pelo cemitério público centenário permanecem até hoje e, a partir das obras de recuperação em andamento, já começam a ser redescobertos.

O secretário de Estado de Cultura, Bruno Chagas, destaca que o Cemitério da Soledade é um marco do urbanismo em Belém, ainda que tenha funcionado por apenas 30 anos. A partir dos trabalhos de restauração e requalificação realizados pelo Governo do Estado, através da Secult, em parceria com a Prefeitura Municipal de Belém, já foi possível constatar elementos que, até então, só tinham relatos na literatura. “Há aproximadamente um mês a arqueologia encontrou valas coletivas no cemitério. Havia o registro histórico, mas não havia a certeza de que havia acontecido, realmente, essa operação aqui”, aponta. “Então, estamos com o último quadrante do cemitério em uma fase muito delicada que é a fase arqueológica, um trabalho minucioso de levantamento e registro técnico”.

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O secretário destaca que o trabalho de restauro do cemitério, que teve início em 2021, já percorreu algumas etapas. A primeira foi justamente a etapa arqueológica. “Por isso que é uma obra bastante técnica e que demanda um tempo maior, pelo trabalho minucioso que a arqueologia teve que fazer para podermos iniciar com a obra de engenharia civil para intervir na parte de hidráulica, elétrica”.

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