Na noite do Dia da Consciência Negra, a Praça Olavo Bilac, localizada no bairro da Terra Firme, tornou-se palco de uma manifestação de famílias de jovens vítimas da violência na periferia. O movimento “Luzes pela Paz” chamou a atenção para a escalada de homicídios na juventude. No ato, acenderam velas, levantaram cartazes e usaram camisetas com os rostos de filhos, irmãos e amigos cujas vidas foram interrompidas precocemente.
A iniciativa foi organizada pelo coletivo Tela Firme - Chalé da Paz, que há uma década atua como uma voz de denúncias contra as chacinas na região metropolitana de Belém. Segundo o coordenador da ação e do coletivo, Francisco Batista, de 45 anos, a ação busca sensibilizar a sociedade para uma realidade alarmante.
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“É simbólico no Dia da Consciência Negra, sabendo que a maioria das vítimas são jovens negros. Estamos aqui para reafirmar a defesa da vida e dizer que ninguém pode ser tratado como descartável, independente das circunstâncias. Não podemos permitir que, em um estado de direito, pessoas sejam executadas como se fossem animais”, declara.
A luta por justiça é também uma causa pessoal da autônoma Jacira Souza, 44, mãe de Kevin Wallace, um jovem de 19 anos assassinado no início deste mês. Kevin era militar da Aeronáutica e sonhava com uma carreira na aviação, mas teve a vida brutalmente interrompida. Jacira relembra a tragédia: “No dia 3 de novembro, um jovem do meu projeto veio me chamar dizendo que meu filho estava baleado [com dez tiros]. Quando cheguei ao local, ele já estava morto. Ele tinha ido à casa da namorada, e o ex dela tirou a vida dele, sem motivo algum. Meu filho não era de estar na rua tarde, sempre dizia para ele ter cuidado, mas essa tragédia aconteceu”, lembra.
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Durante o ato, os relatos eram permeados pela indignação e pela dor da impunidade. Casos como o de Kevin não são isolados. “Justiça pelo Carlos Douglas”, “justiça pelo Ariel Kevin”, “(...) meu querido filhote, te amarei eternamente; meu eterno anjinho, Vitor” e “quem matou o Kevin?”, foram alguns dos cartazes expostos na mobilização. Para Jacira, o movimento precisa crescer e ganhar força. “Assim como aconteceu com meu filho, pode acontecer com qualquer outro. É preciso que mais pessoas somem nessa luta. Não quero que outra mãe passe pelo que estou passando”, diz.
De acordo com Francisco, pelo menos quatro homicídios recentes na região estão sendo denunciados pelo coletivo. O ato encerrou-se com o acender de velas, que representavam o luto dos familiares e símbolo de esperança. Enquanto isso, além de pressionar por respostas, o grupo busca envolver a Ouvidoria Nacional de Segurança Pública, bem como dialogar com o sistema de segurança pública local para que os casos possam ser solucionados rapidamente.