Foram quase seis décadas na ativa enquanto trabalhadora sexual, época em que também deu início à sua militância pelos diretos humanos, principalmente pelos direitos das mulheres. “Enfrentei todos os desafios que um ser humano pode enfrentar por uma sociedade mais justa e fraterna”, conta a paraibana-paraense Lourdes Barreto, uma das três brasileiras que integram a mais recente lista da BBC das 100 mulheres inspiradoras e influentes ao redor do mundo. Este ano, a iniciativa teve como tema central a resiliência.
“Meu sentimento é de que está começando algum reconhecimento da minha trajetória, da minha luta, pelo combate à violência contra a mulher, inclusive contra as trabalhadoras sexuais, as prostitutas, que é o que eu sou”, enfatiza.
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“Passei quase 60 anos no trabalho sexual, e organizei o movimento nacional e na América Latina. Desde os anos 50 eu venho nessa militância por questões de condições de trabalho, sou uma das pessoas que ajudei na construção do Sistema Único de Saúde (SUS), enfrentei a ditadura militar, lutei pelas mulheres privadas de liberdade, contribuí para o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), para o Estatuto do Idoso, para a luta contra a AIDS e respeito às pessoas com a doença, contra o feminicidio”, lista ela, que é mãe de quatro filhos e dez netos. “Tenho lealdade à minha família, nunca neguei nada a meus filhos, sempre assumi a maternidade”, faz questão de reforçar.
Lourdes Barreto comemora uma semana animada, em que tem sido recebida para entrevistas, e uma delas vai ao ar nesta quinta-feira, dia 5, a partir das 23h30. O jornalista Pedro Bial a recebe no programa “Conversa com Bial”, no canal por assinatura GNT, ocasião em que vai falar do livro biográfico que escreveu em comemoração aos seus 80 anos de vida, lançado ano passado: Puta Autobiografia (Clarabóia Editora).
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“Falei para o Bial sobre minha biografia, que tem história da família, do Brasil, da cidade. Minha luta não parou. Defendo direitos sexuais e reprodutivos. Luta é grande mas acho ainda muito pouco reconhecido. Fui candidata a vereadora, não me elegi, mas a votação foi expressiva. Luto por moradia, dignidade, que deveria ser a luta de todos”, avalia, lembrando que saiu da Paraíba ainda jovem, porque apanhava em casa, e veio parar em Belém, onde se estabeleceu e logo começou a trabalhar à noite nas ruas do entorno do centro comercial, após passar pelas zonas do garimpo na Serra Pelada e Itaituba, no meio da década de 50.
“Não acho que sou sobrevivente, pois acho que vivi, lutando e luto por direitos, com trabalho. Sou respeitada, as pessoas me conhecem. Fui a primeira prostituta a ser conselheira no Conselho Nacional dos Direitos das Mulheres. Porque acredito nas mulheres. Daqui a 50 anos elas vão entender o que falo hoje no meu livro, por conta dessas relações de valores, dessa sociedade falsa, moralista. Sou uma puta sonhadora, e sonho com mais mulheres em tudo, e em todos os lugares”, finaliza Lourdes Barreto.
BBC
- l A lista celebra aquelas que — por meio de sua resiliência — estão lutando por mudanças, seja a nível local ou global, à medida que o mundo muda ao seu redor.
- l A edição de 2024 inclui nomes como o de Nadia Murad, ganhadora do Prêmio Nobel da Paz, da ativista Gisèle Pelicot, sobrevivente de estupro, e da atriz Sharon Stone.
- l Além de Lourdes, estão as brasileiras Rebeca Andrade, ginasta e campeã olímpica, e a bióloga Silvana Santos.