Um clima especial paira entre as pessoas nos últimos dias do ano velho, até o ápice no dia 1º de janeiro, com a confraternização universal. Mas o feriado do Ano Novo também guarda o nome de Dia Mundial da Paz, proposto pelo Papa Paulo VI no fim dos anos 1960. A ideia do pontífice foi uma das primeiras e mais importantes propostas para congregações ecumênicas já realizadas.

“Embora a data tenha origem religiosa, ela não se restringe a nenhum credo. Ela foi endereçada pelo papa aos verdadeiros amigos da paz, pessoas de boa vontade, pessoas que têm este interesse na promoção da paz”, explica o professor de história e cientista da religião Márcio Neco.

O contexto dos anos 60 era de ebulição geopolítica, com a Guerra Fria entre Estados Unidos e União Soviética e a proliferação de conflitos em escala regional, além dos regimes de exceção na América Latina – como o caso da ditadura militar no Brasil – e parte da Europa. “A ideia, então, do papa Paulo VI para o Dia Mundial da Paz era justamente conscientizar a humanidade para a construção de um mundo melhor. Desde então, é uma ocasião para se refletir acerca da possibilidade de sempre construir novas etapas, novos momentos, com um espírito mais justo, mais pacífico, mais humano, mais fraterno”, complementa Neco.

DESPERTAR

O feriado, embora hoje em dia seja mais comum se falar em réveillon – palavra francesa que significa “despertar” em tradução livre –, conserva entre a população os objetivos idealizados pelo papa, misturando também as características do despertar para uma nova fase importado dos franceses. “Para mim, é muita reconexão o Ano-Novo, é uma fase de reconexão comigo, assim, com a minha família, né? O Giuliano é minha família. Eu acho que também é renovar as energias para a gente”, opina Mariana Taddeo, 27, sanitarista, que está de férias em Belém com o marido Giuliano.

O casal mora na capital paulista e veio após indicação de amigos que gostaram da cidade quando vieram. Além disso, desejavam conhecer a rotina amazônica e aproveitar para desacelerar do ritmo paulistano. “A gente veio buscar isso em Belém, assim, renovar da cidade. Que a gente estava muito cansado. Aqui tem mais natureza, a gente tá buscando essa calmaria, assim”, completa Mariana. Os dois ficam na capital até 6 de janeiro.

Quem também veio ao Pará por conta do fim de ano foi a engenheira Camila Souza, 29, belenense, mas que mora hoje em Lisboa e sempre aproveita o réveillon para reviver sua terra natal e reencontrar os amigos. “Acho que é relembrar muito o que eu fiz. Eu me lembro muito de onde eu vim e relembrar tudo o que eu vi desde criança. É aconchegante, é um lugar relaxante, é um lugar que relembra tudo o que eu passei e reforça onde eu vim. Quando estou lá fora, me lembra tudo que eu passei e o que eu aprendi e reforça a minha cultura e o valor que eu tenho que dar para a minha cidade.”

Camila quer celebrar a família
📷 Camila quer celebrar a família |(Celso Rodrigues)

O papa Francisco, como tradicionalmente faz todos os anos, destina um tema a ser refletido no dia 1º. “Esse ano, o tema que o papa Francisco escolheu é ‘Perdoa-nos as nossas ofensas, concede-nos a Tua paz’. Então, ele está ali convidando as pessoas a desarmar o coração do primeiro ao último, do pequeno ao grande, do rico ao pobre, e estabelecer um novo momento”, finaliza Márcio Neco.

MAIS ACESSADAS