Como em muitos episódios que começam com sintomas aparentemente banais e acabam revelando falhas de procedimentos, o caso do engenheiro paraense Flávio Acatauassu se desenrola entre exames clínicos, notas técnicas e a busca por respostas que tardam a chegar. A história, que envolve uma suspeita de intoxicação por metanol após o consumo de um uísque comprado em Belém, expõe um ponto sensível na rede de vigilância: o exame capaz de detectar a substância só é realizado mediante solicitação específica - e isso não aconteceu na primeira avaliação médica.
A primeira bateria de exames realizada logo após o mal-estar não apresentou qualquer alteração que sugerisse contaminação. Os resultados emitidos pela Unimed Prime Belém apontavam normalidade em rins, fígado, sangue e urina. No entanto, o documento não incluía o teste de alcoóis voláteis, único capaz de confirmar ou descartar a presença de metanol. O próprio laudo explica, de forma indireta, por que a substância não apareceu: ela simplesmente não foi procurada.
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Na tentativa de esclarecer o que sentia desde o dia 6 de novembro - quando acordou mal após consumir uma dose da bebida -, Flávio buscou um laboratório particular. Lá, o exame específico foi realizado. Setenta e duas horas depois, veio a confirmação: havia metanol em seu organismo.
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A nota fiscal da compra confirma a aquisição de duas bebidas alcoólicas no Supermercado Mais Barato, entre elas o uísque apontado como contaminado. O engenheiro afirma ter reunido um dossiê com documentos, exames e até uma garrafa lacrada do mesmo lote, entregue às autoridades competentes.
O QUE DIZ A SESPA
A Secretaria de Estado de Saúde (Sespa) informou que não recebeu notificação oficial do caso, já que o exame positivo foi feito na rede particular. Disse ainda que, segundo o último boletim, até 9 de outubro de 2025 não havia registros confirmados de intoxicação por metanol no Pará, apesar da vigilância intensificada. A Polícia Civil afirmou não possuir registro da ocorrência.
UNIMED ESCLARECE PROCEDIMENTO
A Unimed Belém declarou que o exame específico não foi solicitado porque o quadro clínico do paciente não atendia, naquele momento, aos critérios previstos na Nota Técnica nº 01/2025 da Sespa. A operadora afirma seguir integralmente as diretrizes do Ministério da Saúde e garante que instaurou apuração assistencial para avaliar a condução do atendimento.
O QUE FAZER EM CASO DE SUSPEITA DE INTOXICAÇÃO POR METANOL
- Principais sintomas:
- – Visão turva, com sensação de “neve” na frente dos olhos
- – Perda repentina da visão
- – Dor abdominal intensa
- – Náuseas e vômitos
- – Tontura forte
- – Dificuldade para respirar
- O que fazer:
- Procure imediatamente uma UPA ou hospital mais próximo. Informe à equipe médica se você consumiu bebidas destiladas nas últimas 48 horas.
- Disque-Intoxicação (Anvisa): 0800 722 6001
- Atendimento gratuito, 24 horas por dia.
- Atenção:
- Se possível, mantenha a garrafa ou o restante da bebida guardado para análise. O material pode auxiliar no diagnóstico e na investigação pelas autoridades.
