Um ex-pastor evangélico, identificado como, Edi Maikel dos Santos Silva, está preso há dois anos e meio, de maneira preventiva na França, por decisão do Tribunal de Annecy, no sudeste do país. O suspeito, hoje com 37 anos, é de Belém do Pará.

Cerca de oito vítimas o denunciaram à Justiça, em que afirmaram que foram abusadas sexualmente por Edi Maikel, durante os últimos 20 anos. Em comum entre elas, pesa o fato de terem alguma ligação parental com o acusado.

Uma sobrinha do acusado, Camila Araújo de Souza, de 28 anos, afirmou ter sido abusada pelo tio em 2002, quando eles moravam na Guiana Francesa. "Eu tinha seis anos, ele veio morar com a gente durante um tempo e foi a primeira vez que aconteceu", acusa Camila.

Ela completou dizendo que o ex-pastor foi flagrado pela mãe, quando o surpreendeu tentando esfregar o pênis dele em suas nádegas. Apesar disso, ela disse que sua mãe nada fez e ainda a disciplinou.

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Ainda de acordo com Camila, o assédio continuou quando eles se mudaram para a França.

"Ele veio dizendo que uma mulher tem uma 'capinha' na vagina, que precisa tirar isso e se não for uma pessoa que tire, tem que ir no médico fazer uma cirurgia, que todas as mulheres passam por isso e que ele queria fazer isso comigo", disse.

Além disso, ainda segundo Camila, o abusador também fazia ameaças de que se ela não permitisse o assédio e que se não topasse fugir com ele para a cidade de Lyon, mesmo com apenas 13 anos, ele se mataria. Naquela cidade, ela ficou sem menstruar e teve um susto ao testar positivo para gravidez. Mas, Camila fez um segundo teste e, desta vez, deu negativo, mas os traumas a atormentaram até os dias de hoje.

Para se ter uma ideia, os exames psicológicos feitos por ela, a qual a Rádio França Internacional (RFI) do Brasil teve acesso, atestaram que a vítima apresenta "manifestações massivas de stress pós-traumático", "sofrimento persistente", "crises de ansiedade", "medo" e "sentimento de culpa".

O tio de Camila, identificado como Fabrício Cordeiro Brasil, que denunciou a situação, ao perceber o comportamento suspeito do ex-cunhado. Ele contestou a fuga do ex-pastor com a sobrinha, ao dizer que não era normal o fato, uma vez que a vítima tinha apenas 13 anos na época e que se configurava como crime de pedofilia e incesto.

Mas, apesar disso, Fabrício Cordeiro teve suas duas filhas abusadas por Edi Maikel, que foi sua maior motivação para fazer a denúncia. A primeira delas, Kyssia Cordeiro, conta que tinha entre 5 a 6 anos, ainda na Guiana Francesa, que passou a ser molestada pelo tio. Ela completou dizendo que, todas as noites, acordava com a mão dele sobre sua calcinha.

Já sua irmã, Victoria Cordeiro, diz que foi abusada, em 2009, quando vieram ao Brasil. Ela disse que quando foi ao banheiro de madrugada, ele a seguiu, a virou de costas e começou a tocar em suas partes intimas, em que nem mesmo o seu choro o fizeram parar. Quando ele terminou o abuso, mandou ela se calar e deu um pirulito para a conter.

O ex-pastor molestou também a enteada Marjorie Vieira Palheta, quando ela tinha apenas 5 anos. A mãe da menina, Angela Silveira Vieira, diz que ele se aproveitou da afeição que a criança teve por ele para cometer os abusos. Passado 10 anos, ela resolveu investigar o caso e, ao indagar a filha, Marjorie confirmou ter sido abusada por Edi Maikel ao longo desse tempo.

Mayra conseguiu fazer com que o acusado confessasse o crime em vídeo, quando eles estavam em formação para ser psicanalistas. "Aí foi quando ele, no vídeo, confessou. Foi uma peça fundamental, a polícia recebeu este vídeo traduzido. Nesse mesmo dia, eu mandei ele sair de casa e falei: se você não sair por espontânea vontade, eu vou denunciar", conta ela.

Para a justiça francesa, Edi Maikel nega ter tido relações sexuais com as vítimas. Ele passou por exames psicológicos, em novembro passado, em que teria revelado que, quando tinha entre 6 e 7 anos, teria sofrido agressões sexuais por três adolescentes, assim como teria sido vítima de maus tratos da madrasta. Além disso, ele alega estar sendo vítima de um complô e de mentira.

Apesar disso, a advogada de defesa das vítimas, Sylvie Correia, afirma que os depoimentos delas serão fundamentais para uma possível condenação. "Não temos nada provado. Em casos de estupro e agressões sexuais, em 99% dos casos, é a palavra de um contra a palavra de outro, porque não tem ninguém presente no momento dos fatos. O que vale neste caso, é que tem muitas pessoas que não se conhecem e que se queixam da mesma coisa. Ou seja, é o número de vítimas que vai fazer com que realmente o juiz preste atenção", declarou a advogada.

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Caso seja condenado, para alívio das vítimas, Edi Maikel pode chegar a 20 anos de prisão, uma vez que a legislação francesa prevê penas mais duras quando há agressão de membros da própria família. "Na França é uma circunstância agravante, pois se considera que o padrasto, o pai, o tio tem autoridade sobre a vítima e, então, é mais grave perante a justiça", completou a advogada Sylvie Correia.

Mas, enquanto isso não acontece, o ex-pastor vai continuar em prisão provisória até o mês de maio, quando poderá recorrer novamente. Para a Justiça francesa, essa é a única forma de evitar que ele possa pressionar as vítimas, prejudicar a investigação ou mesmo fugir para o Brasil.

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