Muitas culturas tem formas diferentes de ver a morte, tendo seus próprios rituais e mantendo tradições que ultrapassam os séculos. No Egito antigo, por exemplo, o processe de mumificação ainda gera muita curiosidade entre historiadores e pesquisadores. 

Pesquisadores do Field Museum, em Chicago (EUA), revelaram novos detalhes sobre as práticas mortuárias do Egito Antigo após realizarem tomografias em 26 múmias do acervo da instituição. O estudo, conduzido em apenas quatro dias, utilizou um tomógrafo instalado na área externa do museu, permitindo a análise sem a remoção de nenhuma faixa, preservando as técnicas milenares de embalsamamento.

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Entre as descobertas, os cientistas constataram que nem todos os órgãos eram armazenados em vasos canópicos, como se acreditava anteriormente. Em alguns casos, os órgãos eram embalados e mantidos dentro do próprio corpo da múmia, como o coração. 

Chenet-aa e Harwa

Dois casos analisados chamaram atenção. Chenet-aa, uma mulher que viveu durante a 22ª dinastia egípcia há cerca de três mil anos, apresenta uma mumificação meticulosa, com adição de "olhos complementares" no crânio para garantir visão na vida após a morte. “A visão dos egípcios da vida eterna era bastante literal. Para ter olhos na próxima vida, era necessário ter olhos físicos ou uma alusão a eles”, explicou J.P. Brown, curador sênior do museu, em um comunicado à imprensa.

Seu corpo foi envolvido em uma cartonagem, estrutura semelhante a papel-machê, que intrigava os pesquisadores por aparentar estar lacrada. A análise revelou costuras nas costas, indicando que a cartonagem foi moldada diretamente sobre o corpo, cortada e, posteriormente, selada com um painel de madeira.

Já Harwa, identificado como um porteiro do celeiro real, teve uma vida privilegiada. Apesar de sua ocupação, não exibia sinais de desgaste físico ou problemas dentários, evidenciando seu alto status social e acesso a uma dieta de qualidade. Harwa também protagonizou uma história curiosa: foi a primeira múmia a viajar de avião, em 1939, e chegou a ser extraviada, indo parar em São Francisco antes de retornar ao Field Museum.

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Técnica Milenar e Novas Descobertas

Os antigos egípcios acreditavam que a alma permanecia no corpo após a morte, o que motivava os elaborados processos de mumificação, que incluíam a retirada de órgãos, uso de sais para desidratação e envolvimento em linho. Os órgãos retirados eram tradicionalmente colocados em vasos canópicos protegidos por divindades, mas o estudo revelou que essa prática não era universal.

As tomografias também evidenciaram a realidade social da época. Enquanto múmias de prestígio, como Chenet-aa e Harwa, recebiam tratamentos funerários detalhados, outras mostraram indícios de improvisação. Um caixão decorado com hieróglifos indicando ser de um sacerdote, por exemplo, continha o corpo de um jovem de 14 anos. “Em alguns casos, as pessoas queriam ser mumificadas, mas não tinham os meios financeiros. Assim, reutilizar caixões era uma prática comum”, explicou Stacy Drake, gerente da coleção de restos humanos, em entrevista a CNN.

Avanços e Próximos Passos

O estudo marca um avanço no entendimento das práticas funerárias egípcias e reforça a importância de investigar a história a partir de indivíduos específicos. O time do Field Museum pretende continuar o mapeamento das múmias para ampliar o conhecimento sobre as crenças, costumes e hierarquias sociais do Egito Antigo.

“Essa é uma oportunidade rara de enxergar a história por meio de pessoas reais, além das narrativas que criamos sobre elas”, concluiu Drake.

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