Quem vive com cães sabe que quanto menor o tamanho, maior a personalidade. Não é raro ver vídeos viralizando nas redes sociais com chihuahuas, pinschers e shih-tzus “prontos para o ataque”, arrancando risadas e memes que alimentam a fama desses pequeninos como estressados e temperamentais. Mas, por trás do humor, existe ciência e ela ajuda a entender por que alguns cães de pequeno porte realmente reagem de forma mais intensa ao mundo ao redor.

Segundo o médico-veterinário comportamental Edilberto Martinez, embora não seja uma regra absoluta, estudos isolados mostram que raças pequenas tendem a apresentar comportamentos mais reativos, como latidos constantes e agressividade defensiva.

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Essa tendência, explica o especialista, tem raízes na própria história dos cães pequenos. “Eles foram selecionados para acompanhar humanos de perto, dentro de casa, o que favoreceu um comportamento de proteção maior”, afirma. Além disso, o hábito comum de carregar esses animais no colo, em vez de deixá-los explorar o ambiente, pode deixá-los mais inseguros diante de estímulos novos.

Pequenos, protegidos e inseguros

O processo de humanização também contribui para comportamentos indesejados. “Raças pequenas são, muitas vezes, tratadas como bebês. Essa superproteção pode resultar em cães com comportamentos agressivos e possessivos”, destaca Edilberto.

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O veterinário explica que tutores superprotetores costumam ser pessoas ansiosas ou inseguras e, mesmo sem perceber, acabam reforçando o medo e a ansiedade do animal. “Isso impede que o cão aprenda a lidar com situações novas e faz com que se sinta vulnerável diante de estímulos que, normalmente, não deveriam causar preocupação.”

Experiências negativas e falta de socialização também pesam. Por serem pequenos, esses cães estão mais suscetíveis a pisões acidentais, aproximações bruscas e carícias inadequadas, o que aumenta a sensação de risco.

Edilberto exemplifica: “Imagine um golden retriever brincalhão dando uma patada para chamar um chihuahua. Pode machucar e até causar uma lesão grave. O mesmo vale para mordidas leves de brincadeira.”

No ambiente urbano, o cenário pode ser ainda mais desafiador. Como todos os cães, eles têm audição sensível mas, somada à superproteção dos tutores, essa sensibilidade pode resultar em limiar emocional mais baixo.

Sinais de que o pequeno está estressado

O veterinário orienta os tutores a observar sinais de alerta, como:

  • Lambedura excessiva das patas
  • Comportamento destrutivo
  • Falta de apetite
  • Latidos excessivos
  • Isolamento
  • Agressividade
  • Alterações no sono

Como ajudar o pet a se sentir mais seguro

Ao notar esses sintomas, Edilberto recomenda criar uma rotina tranquila e previsível, em um ambiente seguro, antes de expor o pet gradualmente a novos estímulos sejam urbanos, humanos ou de outros animais.

Um ponto importante: não pegar o cão no colo ou consolá-lo no momento da reação, pois isso reforça o comportamento. O ideal é trabalhar com recompensas, treinos de dessensibilização e contra-condicionamento.

Além disso, é essencial que o cão brinque, fareje, passeie e satisfaça suas necessidades naturais, fortalecendo sua autonomia e confiança.

“E nunca use punição clássica como forma de ensinamento”, reforça o especialista. “A tendência é que o cão se torne ainda mais inseguro e ansioso.”

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