No início dos anos 80, o país ainda enfrentava duros momentos de autoritarismo em decorrência da Ditadura Militar em curso. A alta inflacionária tornava ainda mais difícil o custo de vida da população e, mesmo diante dessa e de outras tantas demandas, as decisões políticas ocorriam unilateralmente, sem consulta popular.

Ainda que o cenário desenhado estivesse longe de ser o mais próspero, em um casarão alugado na rua dos Mundurucus, esquina com a travessa Tupinambás, a ousadia em defesa da democracia e da população ganhava corpo físico. Eram impressas as primeiras páginas do DIÁRIO, que foi às ruas pela primeira vez em 22 de agosto de 1982.

 Até que tal feito se concretizasse, foram muitos os esforços empenhados. Diante da necessidade de criar um instrumento eficaz que possibilitasse dar voz e furar o boicote dos órgãos de comunicação vigentes à oposição ao regime militar, o jornalista Laércio Wilson Barbalho não mediu esforços para fundar o DIÁRIO.

Ainda no final dos primeiros seis meses de 1981, diante das muitas investidas e da dificuldade de se conseguir uma gráfica em Belém para imprimir um semanário popular e político, chegou-se a cogitar a possibilidade de imprimir o jornal em Brasília, o que acabou não sendo necessário. O relato publicado na edição especial de dois anos de aniversário do DIÁRIO, em 22 de agosto de 1984, aponta que “esses planos logo seriam colocados de lado, ante a possibilidade de compor-se uma boa equipe e de o jornal ser impresso aqui mesmo”.

A solução para o problema veio com a oferta de máquinas de impressão a quente, o chamado ‘chumbão’. Apesar dos altos custos, o maquinário chegou a Belém vindo de São Paulo, adquirido entre dezembro de 1981 e janeiro de 1982. Máquinas garantidas, foi preciso ir atrás da equipe que faria tudo funcionar.

“Arregimentar linotipistas não era tarefa fácil. (...) grande parte deles especializara-se no ‘off-set’ e os demais mudaram de profissão”, registrou a edição de aniversário de dois anos. “As engrenagens do maquinário jamais haviam servido para editar um jornal diário e o seu sistema ‘nylon print’ era praticamente desconhecido dos gráficos de Belém”.

A equipe que iniciou a empreitada ao lado de Laércio Barbalho incluía editores, encarregados da parte comercial, colunista social, repórteres, fotógrafos, diagramadores, cartunistas e, ainda, laboratorista, arquivista e operador de telex, sendo este último responsável por lidar com os telegramas que chegariam das agências Estado e AFP, um marco do tempo em que a internet ainda não estava à disposição para acelerar a chegada de informações de outras partes do Brasil e do mundo. Na parte gráfica, técnicos, gráficos e os linotipistas, profissionais que operavam a máquina de linotipo, que usava caracteres pré-moldados para a confecção dos textos.

O jornalista Laércio Barbalho, fundador do DIÁRIO, acompanha a primeira impressão em off-set do jornal.
📷 O jornalista Laércio Barbalho, fundador do DIÁRIO, acompanha a primeira impressão em off-set do jornal. |Reprodução

Contrariando todas as dificuldades e comprometido com as causas populares, o DIÁRIO nasceu impresso a chumbo e composto nos tradicionais linotipos. “A edição de prova foi impressa finalmente após um nervoso e extenuante trabalho de 24 horas diárias. Com o domínio do obsoleto maquinário, descontados os percalços de uma pane aqui e outra ali, depois tudo se tornaria menos difícil. A primeira edição do Diário do Pará sairia às ruas tão quente quanto sua impressão”.

A pouca estrutura mantida pelo jornal no início continuaram sendo um desafio para as próximas edições, desafio este, porém, sempre superado. Ainda no seu primeiro ano de existência, em 15 de novembro de 1982, o DIÁRIO alcançou recorde de triagem, colocando mais de 100 mil exemplares nas ruas – feito lembrado pela edição de 15 de novembro de 1986.

Equipamento

Do chumbão ao off-set: o avanço da tecnologia no jornal

Uma das primeiras grandes transformações tecnológicas e estruturais pelas quais passou o DIÁRIO foi vivenciada em 1984, quando passou a adotar o modelo de impressão off-set. Para permitir a troca de equipamentos e a mudança das instalações do antigo casarão da Mundurucus para o prédio próprio, na Gaspar Viana, em 28 de janeiro de 1984 o jornal interrompeu temporariamente suas atividades. Retornou às ruas em 15 de março do mesmo ano, já em impressão off-set, e com o visual gráfico transformado. “Um avançado sistema de fotocomposição, todo eletrônico, completava com sua potente impressora ‘off-set’ os requisitos essenciais à produção do grande jornal que seria doravante”, registra a edição especial de 1984

Defesa da democracia foi a semente que fez brotar o DIÁRIO
📷 |Reprodução
📷 |Reprodução

  .

NÚMERO ZERO

Antes da primeira edição do DIÁRIO ir às ruas, circulou uma edição experimental do jornal, o número zero, que tinha como objetivo contribuir para os ajustes necessários e definição do modelo seguido por anos. O chamado ‘número zero’ rodou no dia 17 de agosto de 1982.

PRIMEIRA EDIÇÃO

Publicada em 22 de agosto de 1982, um domingo, a primeira edição do DIÁRIO foi composta por dois cadernos de oito páginas cada um, além de um encarte, a ‘Revista Nacional’.

📷 |
O antigo parque de linotipia, na primeira sede do DIÁRIO. Foto: Reprodução

MAIS ACESSADAS